Opinião

O homem mais perigoso do mundo

OPINIÃO | PEDRO SANTOS | 3 horas atrás em 29-09-2024

Frequentemente louvado como um dos maiores inovadores da era moderna, de Elon Musk já muitos ouviram falar, até aqueles para quem nomes como Tesla, SpaceX ou Starlink pouco ou nada dizem.

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E essa é uma boa medida do estatuto de pop star do empresário, que, num mundo cada vez mais obcecado com títulos e reels, consegue fazer vingar a sua faceta de milionário excêntrico (e as capas das revistas adoram um milionário excêntrico tanto quanto detestam a falta de glamour dos pobres) acima de outra para a qual é importante que olhemos com bem mais atenção: a de ameaça crescente para a democracia.


Uma das áreas mais preocupantes do poder de Musk pode ser identificado na sua gestão do Twitter, cuja compra pode ter começado por parecer um capricho, mas tem vindo a revelar-se uma manobra que lhe permite ter uma plataforma para ações que alguns, com demasiada benevolência, classificam como comportamento errático, mas são antes um perigo para todos nós. Desde que assumiu o controlo da plataforma, promoveu uma visão desregulada de “liberdade de expressão” (as aspas são minhas), readmitindo figuras públicas que anteriormente haviam sido banidas por disseminação de desinformação e discurso de ódio. E quando se tem o poder global deste magnata, desconsiderar desta forma os perigos do extremismo e da polarização na sociedade é absolutamente irresponsável, sendo difícil acreditar que não seja intencional.
Musk tem vindo a fazer-se notar também por desafiar publicamente a regulação do combate à desinformação nas redes sociais, em particular na Europa. E embora possa parecer que não precisamos de nos sentir ameaçados por uma pessoa que acha boa ideia chamar X Æ A-Xii a um filho, aquela oposição à criação de regras que possam terminar com o faroeste digital coloca em risco a integridade do debate público e contribui para a perpetuação de falsas narrativas que minam o funcionamento saudável da(s) democracia(s).
No campo geopolítico, a sua influência é possivelmente ainda mais perturbadora.

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Apesar da aparente bondade por detrás do papel desempenhado pelo satélites da Starlink no conflito entre a Rússia e a Ucrânia – fornecendo acesso à Internet em áreas afetadas, facilitando, por exemplo, o trabalho de organizações humanitárias e o funcionamento de hospitais – a decisão unilateral de limitar o acesso ao serviço em momentos críticos, como durante ataques russos, é prova absoluta do poder desproporcional de Musk.

Se a isto juntarmos os seus comentários sugerindo que a Ucrânia deveria ceder território à Rússia para alcançar a paz, ficamos sem dúvidas quanto à sua disposição para interferir em questões diplomáticas que afetam diretamente o desenrolar de eventos globais – sem que para isso tenha recebido algum mandato, a não aquele que claramente acredita lhe é conferido pela sua fortuna.

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Uma questão que se coloca, portanto, é até que ponto a mitologia do génio inovador (em larga medida, inicialmente autocriada, além de claramente romantizada) justifica o poder quase ilimitado que Elon Musk exerce. Ser um suposto visionário na área da tecnologia confere-lhe o direito de moldar políticas públicas e decisões diplomáticas com implicações globais?

O perigo, porém, reside não só nas ações desta pessoa em particular, mas na concentração de poder em indivíduos que não estão sujeitos a mecanismos de controlo democrático. Porque se Musk poder ser o homem mais perigoso do mundo neste momento, caso nada seja feito para o impedir, outro lhe sucederá sem que nada de substancial mude a não ser o nome.

OPINIÃO | PEDRO SANTOS – ESPECIALISTA EM COMUNICAÇÃO

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