Região

25% do Parque Natural da Serra da Estrela atingido por fogos desde julho

Notícias de Coimbra | 2 anos atrás em 19-08-2022

O Parque Natural da Serra da Estrela foi atingido, desde julho, por cinco grandes incêndios que afetaram 25% da sua área total e causaram efeitos negativos “muito significativos em locais de sensibilidade ecológica elevada”, divulgou hoje o ICNF.

A região da serra da Estrela foi afetada, entre julho e até hoje, por um conjunto de cinco grandes incêndios rurais que atingiram um total de 28.112 hectares, dos quais 22.065 do Parque Natural da Serra da Estrela (PNSE), ou seja, 25% da sua área total, revelou o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) numa nota de imprensa enviada à Lusa.

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Tendo em conta a dimensão da área ardida, os habitats e as espécies da flora e da fauna e o respetivo estatuto corológico, estatuto de conservação e estatuto de proteção legal, “os incêndios causaram efeitos negativos muito significativos em locais de sensibilidade ecológica elevada”, realçou o ICNF.

Entre os concelhos atingidos, o da Guarda registou 10.112 hectares, ou seja, 14% da área total do concelho, e o de Manteigas foi afetado em 6.300 hectares (52% da área total do concelho).

Já as freguesias de Verdelhos (Covilhã), Aldeia Viçosa, Famalicão, Fernão Joanes, Gonçalo e Valhelhas (Guarda), Sameiro e Vale de Amoreira (Manteigas) e Folgosinho (Gouveia), registaram todas mais de 50% da sua superfície afetada.

“Os perímetros florestais de Valhelhas, Carvalhal e Sameiro foram quase integralmente percorridos pelo fogo, tendo igualmente sido particularmente atingidos (mais de 50% da área afetada) os perímetros florestais de Aldeia do Carvalho, Sarzedo e Serra da Estrela – Núcleo de Verdelhos, ascendendo a um total de 10 385 hectares os terrenos ardidos que estão submetidos ao regime florestal”, salientou o ICNF.

As matas de pinheiro-bravo (9.199 hectares) e de carvalho (2.633 hectares) foram as ocupações florestais com mais área queimada, sendo que a floresta (15.167 hectares, 54% da área total ardida) e os matos e pastagens espontâneas (35%) foram “os usos do solo mais atingidos”, referiu o instituto, registando ainda 2.801 hectares de área agrícola ardida.

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O ICNF divulgou também que entre as espécies da flora vascular afetadas, se destacam, pelo estatuto corológico, estatuto de conservação e pelo estatuto de proteção legal, as populações: Centaurea langei subsp. Rothmalerana, Armeria sampaioi, laborinho (Festuca elegans), Jurinea humilis, mostajeiro (Sorbus aria eSorbus latifolia).

Estão ainda em avaliação os danos na população de teixo (Taxus baccata).

Das espécies da fauna atingidas, o ICNF destaca várias espécies de invertebrados, algumas endémicas da serra da Estrela e outras cuja única localidade conhecida em Portugal se situa na área do Parque Natural, e ainda a lagartixa-de-montanha (Iberolacerta monticola subsp. monticola), uma espécie endémica da serra da Estrela e “cuja área de distribuição foi atingida pelo incêndio”.

Quanto a aves, a cegonha-negra (Ciconia nigra), águia-de-Bonelli (Aquila fasciata), águia-real (Aquila chrysaetos), tartaranhão-caçador (Circus pypargus), águia-cobreira (Circaetus gallicus), falcão-peregrino (Falco peregrinus), melro-das-rochas (Monticola saxatilis) e petinha-dos campos (Anthus campestris) foram as mais afetadas.

Entre os mamíferos foram sobretudo atingidos, na sequência destes incêndios, a toupeira-de-água (Galemys pyrenaicus), o gato-bravo (Felis silvestris) e comunidades de várias espécies de quirópteros.

O ICNF sublinhou também que, desde 2018, “desenvolveu ou apoiou diretamente” no PNSE um conjunto muito diversificado de ações de prevenção estrutural.

Entre estas ações incluem-se a instalação e manutenção de 2.324 hectares de rede primária de faixas de gestão de combustível, 771 hectares de parcelas de mosaicos e faixas de rede secundária (proteção a vias e edificações), 177 hectares de áreas de pastorícia apoiada e 411 quilómetros de caminhos e rede divisional florestais.

“A estes trabalhos acrescem 1 463 hectares de áreas geridas com fogo controlado e queimadas prescritas ou autorizadas e, também, os trabalhos realizados pelas autarquias locais, gestores de infraestruturas viárias e de transporte de eletricidade e proprietários e gestores florestais, executando o disposto nos Planos Municipais de Defesa da Floresta contra Incêndios (PMDFCI)”, apontou ainda.

O mais grave dos incêndios desde julho deflagrou no concelho da Covilhã em 06 de agosto e foi dado como dominado na quarta-feira à noite, com as chamas a estenderem-se ao distrito da Guarda, nos municípios de Manteigas, Gouveia, Guarda e Celorico da Beira, e atingirem ainda o concelho de Belmonte, no distrito de Castelo Branco.

Após uma reunião conjunta, na quinta-feira, os municípios abrangidos pelo PNSE exigiram que seja decretado “estado de calamidade”, e apoios imediatos para colmatar prejuízos de “centenas de milhões de euros”.

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