Coimbra
2020: Redação da Lusa elege pandemia, profissionais de saúde e cientistas
A Redação da Lusa elegeu a pandemia de covid-19 como o único acontecimento a distinguir em 2020, e os profissionais de saúde e os cientistas como personalidades, numa escolha inédita que corresponde a um ano extraordinário.
Em vez da habitual seleção a nível nacional, internacional e da lusofonia, os jornalistas da agência portuguesa decidiram, por 95 votos a favor e 10 contra, que deveriam marcar 2020 como o ano da nova doença, das suas vítimas e das suas consequências para a Humanidade.
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“A pandemia de covid-19 é de tal forma extraordinária que o seu impacto global, em todo o mundo, sem exceção, é incomparável com tudo aquilo que todos nós vivemos até hoje. E, no passado, apenas pode ter paralelo com outros acontecimentos que marcaram a história de forma incontestada e a Humanidade no seu todo”, justificou a Direção de Informação no voto submetido à Redação.
No mesmo sentido, a Lusa destacou como personalidade do ano, em Portugal e no mundo, os profissionais de saúde, que “são a primeira linha de resposta à covid-19” e cuja “dedicação e empenho são consensualmente reconhecidos”.
A escolha dos cientistas deve-se ao empenho na busca de uma vacina, que “alcançou feitos inéditos na história, tanto no que toca à velocidade dos primeiros resultados, como no desenvolvimento de novas tecnologias” que podem ser decisivas para combater outras doenças.
Outros acontecimentos poderiam ter sido escolhidos no formato normal: em Portugal, a morte do ucraniano Ihor Homenyuk nas instalações do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) no aeroporto de Lisboa, o fim de 24 anos de poder do PS nos Açores ou o início do processo de despenalização da eutanásia.
Como figuras nacionais, a ministra da Saúde, Marta Temido, e a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, destacaram-se por via da pandemia.
A nível internacional, Joe Biden e Kamala Harris impediram um novo mandato presidencial de Donald Trump nos Estados Unidos, país onde a morte de George Floyd às mãos da polícia globalizou o movimento antirracista “Black Lives Matter” (“Vidas Negras Contam”).
Na Lusofonia, a lista inclui os ataques “jihadistas” no Norte de Moçambique e o papel do bispo de Pemba, Luíz Fernando Lisboa, na sua denúncia, as manifestações antigovernamentais em Angola, com o jovem Inocêncio de Matos como um “herói-mártir”, ou o líder indígena brasileiro Raoni, de 90 anos, figura de destaque na defesa da Amazónia.
Mas nada foi tão brutal e global como a doença provocada pelo Coronavírus da Síndrome Respiratória Aguda Grave-2 (SARS-CoV-2), detetado pela primeira vez há um ano, em Wuhan, no centro da China.
Desde então, já matou mais de 1,6 milhões de pessoas, incluindo 5.815 em Portugal, e infetou quase 73 milhões em todo o mundo.
Historicamente, está longe de outras epidemias, como a chamada peste negra, no século XIV, ou a gripe pneumónica de 1918-19, que terão matado, cada uma, dezenas de milhões de pessoas.
Mas nunca uma doença terá provocado tantas alterações no modo de vida e de organização da sociedade contemporânea a nível global e em tão pouco tempo como a covid-19.
Para a combater, os governos mandaram para casa mais de metade da população mundial, paralisando setores inteiros da economia global, e mantiveram idosos encerrados em lares.
As imagens de ruas desertas, de caixões, de filas de desempregados, de futebol sem público, de aviões parados nos aeroportos ou de centros urbanos sem as habituais nuvens de poluição atmosférica são alguns dos ícones da pandemia.
De um dia para o outro, muitas pessoas ficaram em teletrabalho e plataformas ‘online’ como o Zoom ou o Teams passaram a ser “locais” de reuniões de empresas, de cimeiras mundiais, de concertos musicais ou simplesmente de encontros familiares.
Os ocidentais imitaram os asiáticos no uso da máscara, e todos aprenderam a desinfetar as mãos, a observar a etiqueta respiratória, a respeitar a distância social e a controlar os afetos.
Apesar da esperança nas vacinas disponibilizadas em tempo recorde pela ciência, não se sabe ainda o que vai ser o “normal” no futuro, mas há quem admita que não voltará a ser igual ao que era até há um ano.
Para já, a vida em sociedade passou a ter uma espécie de “livro de instruções” para se estar em casa, na rua ou no trabalho.
E até para expressar a dor pela morte em tempo de pandemia, como aconteceu a familiares e amigos de muitas pessoas, incluindo à Lusa, que perdeu dois dos seus: os jornalistas Manuel Luís Mendes e Pedro Camacho.
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