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10 anos do pontificado do Papa Francisco

Notícias de Coimbra | 2 anos atrás em 11-03-2023

Os 10 anos do pontificado do Papa Francisco, que se assinalam no dia 13 de março, confirmam o caminho novo que a Igreja Católica iniciou quando os cardeais elegeram um pontífice do “fim do mundo”, atualmente com 86 anos.

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O “olhar para as periferias”, a preocupação permanente pelos mais desfavorecidos, a luta contra os escândalos dos abusos sexuais, a defesa do ambiente e da “casa comum”, a par da reorganização da cúria e da abertura da discussão do caminho a seguir a todos os católicos, são alguns dos pontos que caracterizam a década do argentino Jorge Mário Bergoglio à frente da Igreja Católica.

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Francisco, e não obstante os “ventos de abertura”, pouco tempo depois da sua eleição, na encíclica “Lúmen Fidei” (Luz da Fé) – texto que havia sido iniciado pelo seu antecessor Bento XVI, que renunciou ao papado em 28 de fevereiro de 2013 -, reiterava a firme oposição ao casamento homossexual, ao mesmo tempo que pedia aos crentes que “não sejam arrogantes”, mas “abertos ao diálogo”, incluindo com os não crentes.

Mas seria dois anos depois, com a encíclica “Laudato Si” (Louvado Sejas), que o Papa argentino assumiu uma das suas grandes causas, defendendo que os países ricos devem sacrificar algum do seu crescimento e libertar recursos necessários para os países mais pobres, num texto em que propôs uma revolução social, ambiental e económica.

“Chegou a hora de aceitar crescer menos em algumas partes do mundo, disponibilizando recursos para outras partes poderem crescer de forma saudável”, escreveu o Papa na encíclica publicada em junho de 2015.

Cobrindo temas que vão do ambiente ao desemprego, Francisco apelou às potências mundiais para salvarem o planeta, considerando que o consumismo ameaça destruir a Terra e denunciando o egoísmo económico e social das nações mais ricas.

“Hoje, tudo o que é frágil, como o ambiente, está indefeso em relação aos interesses do mercado divinizado, transformado em regra absoluta”, criticou Bergoglio.

Para o Papa, não há dúvida de que o aquecimento global é consequência da ação humana, afeta principalmente os mais pobres, e é preciso que “a humanidade tome consciência da necessidade de mudar modos de vida, produção e consumo” para o combater.

Francisco criticou um sistema económico que aposta na mecanização para reduzir custos de produção e faz com que “o ser humano se vire contra si próprio”, defendendo que o valor do trabalho tem de ser respeitado numa “ecologia integral”.

O Papa considerou que a conservação do planeta também passa por garantir habitação condigna e bons transportes públicos nas cidades. “Não são apenas os pobres, mas uma grande parte da sociedade tem sérias dificuldades para conseguir casa própria”, uma “questão central da ecologia humana”.

Na “Laudato Si”, Francisco avisou para o perigo de dar o controlo da água às multinacionais, manifestando-se contra a privatização de um “direito humano básico”.

Por outro lado, referiu-se aos “pulmões do planeta” repletos de biodiversidade como a Amazónia, a bacia hidrográfica do Congo e outros grandes rios ou os glaciares, importantes para “todo o planeta e para o futuro da humanidade” e propôs uma “discussão científica e social responsável e ampla” sobre o desenvolvimento e a utilização dos organismos geneticamente modificados para alimentação ou medicina.

Cinco anos depois, nova encíclica papal, intitulada “Fratelli Tutti” (Todos Irmãos), dedicada à fraternidade e amizade social, e na qual, Francisco criticou o reacendimento de populismos, racismo e discursos de ódio, lamentando a perda de “sentido social” e o retrocesso histórico que o mundo está a viver.

“A história dá sinais de regressão. Reacendem-se conflitos anacrónicos que se consideravam superados, ressurgem nacionalismos fechados, exacerbados, ressentidos e agressivos”, escreveu.

Identificou, então, o surgimento de “novas formas de egoísmo e de perda do sentido social mascaradas por uma suposta defesa dos interesses nacionais” e associou discursos de ódio a regimes políticos populistas e a “abordagens económico-liberais”, que defendem a necessidade de “evitar a todo o custo a chegada de pessoas migrantes”.

Sobre o racismo, Francisco disse ser um “vírus que muda facilmente” e “está sempre à espreita”, em “formas de nacionalismo fechado e violento, atitudes xenófobas, desprezo e até maus-tratos”.

Por isso, exortou os países a abandonarem o “desejo de domínio sobre os outros” e adotarem uma política “ao serviço do verdadeiro bem comum”.

O Papa defendeu ainda que o “desprezo pelos vulneráveis” pode esconder-se em formas populistas que, “demagogicamente, se servem deles para os seus fins”, ou em formas liberais “ao serviço dos interesses económicos dos poderosos”, e alertou para a diferença entre populismo e popular.

Com estas três encíclicas, o Papa expressou muitas das suas preocupações: a defesa do planeta, a luta por uma economia justa, o cuidado necessário aos mais vulneráveis, mas também a manutenção de alguns pontos “inegociáveis”, como a oposição ao casamento homossexual defendida na “Lúmen Fidei”.

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